Pró-heresia é resultado dos sonhos de um autor que buscou na literatura a própria salvação. Quando o seu fatigado cérebro indicava não ser mais capaz de dar respostas às crises existenciais ou de reencontrar o sentido do amor, foi por meio dos devaneios noturnos, naqueles instantes em que o inconsciente fala mais alto, que Rogério Felipelli Vaquero começou a se entender como uma máquina de redigir ideias abstratas e decifrar por meio delas os caminhos que deseja seguir. Um aparelho de carne, osso e a capacidade insuportável de criar armadilhas para si mesmo, mas também dotado de uma conexão que ultrapassa os limites daquilo que costumamos nomear de realidade, trazendo – através de sonhos e pesadelos – as escolhas que ele mesmo podia adotar sozinho ao levantar do travesseiro.

“Talvez haja um órgão além do meu cérebro que precisa se expressar. Algo que está num posto acima do cara que sempre precisou convencer os outros de que estava preparado”, relata o autor em uma das páginas deste livro, sem conseguir definir exatamente que órgão é esse. Foi do hábito de escrever na madrugada que Vaquero diz ter resgatado o amor próprio. Pró-heresia não pode ser enquadrado como um livro exclusivamente de prosa tampouco de poesias. É a mistura de ambos. Um emaranhado de fantasias, bastante reais, aparentemente desconexas, jogadas ao vento, mas que ao final parecem obedecer a um fio condutor, localizado em algum ponto entre a loucura e a consciência, entre a razão e a emoção, entre a vida e a morte.