O conjunto traz um forte grito por liberdade que cativa – já em “A noite e o horizonte”, espécie de elogio do sonho (quando os pensamentos, libertos, navegam por mares intrigante), e, antes mesmo, na introdução (quando se deixa bem claro que, antes de pôr as ideias no papel, foi preciso de libertar de uma de suas ocupações). Essa mistura, aliás, cria uma interessante confusão entre autora e eu lírico: fundem-se. Sem que, no entanto, haja enfraquecimento da linguagem poética. Há uma bela noção de ritmo livre, com uma certa cadência bem-marcada, sem se deixar enredar pela prisão da metrificação, o que confere um toque moderno à produção. Acompanha o que vem sendo feito pelos grandes nomes contemporâneos e o que, em geral, cai nas graças do público – coisa que não dá para deixar de considerar, afinal. Além dessa noção de liberdade, há uma certa “batida” melancólica agradável, até mesmo porque existem acenos constantes ao tempo e o que costuma estar a reboque dessa noção, como saudades, nascimento e morte, laços, consciência. A partir dessa questão que costuma atormentar a condição humana, a do tempo, há um mergulho constante no sonho. É possível afirmar, assim, que se trata de um conjunto onírico, mas sem que a poesia seja influenciada por um ritmo lisérgico, digamos: apesar dos saltos imaginativos, a linguagem é calcada na realidade. Uma vez mais, equilíbrio.
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As prosas poéticas de Elisabeth Lopes são um convite à reflexão sobre a vida, as relações e, principalmente, o tempo. O tempo, que há pouco era contado no relógio-ponto do trabalho, deu lugar ao reino da liberdade e da criatividade, abrindo a possibilidade de expressar percepções e sentimentos em palavras.
Nesta coletânea, Elisabeth aborda temas diversos, como amor, saudade, memórias e espera, entre outros. Os poemas são leves, fluidos e diretos, tornando a leitura muito prazerosa. A autora, de personalidade aquariana, toca corações e faz o leitor viajar para lugares distantes apenas por meio das palavras.
Juliana Lopes de Souza, arquiteta de interiores
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