Lava jato e operação marquês. Moro e Alexandre. Há um fio que os une e que é produto de um certo storytelling - essa ambição que as televisões na verdade nunca abandonaram: somos nós que criamos os personagens. Certo: a Globo dá a Moro o prémio de personalidade do ano; a SIC faz uma entrevista de vida a Carlos Alexandre. A pulsão de fama na construção da narrativa do novo grande homem torna tudo o mais secundário - o escrúpulo no cumprimento da lei, os direitos individuais, as campanhas difamatórias contra inocentes. A ascensão destas celebridades é sempre marcada pelo atropelo às regras da classe, o que antecede o respetivo ajuste de contas no final. A comunidade jurídica não perdoará ser instrumentalizada por alguns ao serviço da política, nem perdoará perder a gravitas que sempre cultivou, nem permitirá ser arrastada para lamentáveis espetáculos de sapateado e de vaidade de onde sabe que sairá sempre a perder. Afinal, quantos destes já vimos aparecer no espaço público? Di Pietro, Garzón, Eva Joly: a construção de biografias políticas a partir da justiça começa com discursos épicos, aventuras tumultuosas e não raro acaba na solidão de regresso ao real: praças desertas onde só as pedras respondem. Personagens sem consequência. Peões no jogo dos outros.
Código: |
115711 |
EAN: |
9789896946074 |
Peso (kg): |
0,250 |
Altura (cm): |
23,00 |
Largura (cm): |
16,00 |
Espessura (cm): |
1,00 |
Especificação |
Autor |
José Socrates |
Editora |
Actual |
Ano Edição |
2022 |
Número Edição |
1 |