Zanetti é filho do pós-guerra, nascido em 1946.
Da geração bomba atômica, a vida por um fio.
Consciência política de esquerda desenvolvida à sombra da cultura, do teatro, da música, do cinema, de deus e o diabo na terra do sol, Fellini, Nino Rota, Ennio Morricone, 1966 já empolgado pela Ação Popular (AP), organização revolucionária nascida do ventre da Igreja Católica, na sequência marxista-leninista.
Era também, sempre foi, o homem que amava as bicicletas e que adorava se apaixonar, uma paixão em cada esquina.
Que gostava das alturas, acostumado a ser alpinista no Marumbi.
Da capoeira, do futebol.
Da poesia: tímido, quando não conseguia se declarar, danava-se a fazer versos para a paixão da hora.
Do bom humor, do sorriso permanente.
Nas ruas de Curitiba, dirigente estudantil, viveu 1968 intensamente, o ano que não terminou.
Depois, a vida dá um giro completo, envolvimento total na militância clandestina, São Paulo, existência girando em torno de AP, enviado para a Bahia com destino de combatente da Guerrilha do Pajeú, a guerrilha que acabou não acontecendo em terras da Chapada Diamantina.
Preso em maio de 1971 em Salvador, enfrenta o pão que o diabo amassou, barbaramente torturado: pau-de-arara, choque elétrico, algemado a uma árvore debaixo de chuva durante uma noite inteira.
Cadeias, cumprindo penas em Salvador e em Curitiba, terra natal.
No pós-prisão, entre uma e outra tentativa para ganhar o pão, acaba numa organização ecumênica, voltada a pequenos projetos destinados a melhorar a vida dos mais pobres do País, a Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), com sede em Salvador.
Encontrou-se.
Passa mais de três décadas nessa nova militância, mesclando a consciência marxista com a melhor tradição cristã-ecumênica.
Mergulho no Brasil profundo, andando de um extremo a outro da nação, entre operários quilombolas indígenas periferias juventudes pobres negros negras conhecendo de perto as dores do mundo tentando com os pequenos projetos da CESE melhorar a vida dos excluídos.
Um revolucionário amoroso, como definido por camaradas, por parceiras e parceiros.
Capaz sempre de indignar-se sem jamais perder a ternura.
Um Che do nosso tempo.
Tornou-se encantado no início de 2022, depois de enfrentar um câncer no cérebro durante dois anos.
Está no coração dos que amavam, dos que amam a Revolução.
Dos cristãos, católicos e protestantes, dos adeptos do candomblé, dos ateus, dos que sonham com um mundo solidário e propenso à igualdade.
Uma vida dedicada às classes trabalhadoras.
Revolucionário dos sonhos e das utopias.
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