A coletânea Padrão de reprodução do capital faz uma reinterpretação coletiva da história latino-americana por meio de uma história econômica da dependência. Os autores Jaime Osorio, Marcelo Carcanholo, Mathias Luce, Carla Ferreira e Marisa Amaral, além de Ruy Mauro Marini - que formam duas gerações de vigorosa tradição da teoria marxista da dependência (TMD) - reúnem-se para apresentar um estudo sobre as leis de tendência do sistema capitalista e as formas de produção, acumulação, circulação e apropriação do valor - ou seja, do processo reprodutivo do capital - em nosso continente.Faltava, até então, uma proposta teórica que, tendo a teoria do valor de Marx como núcleo orgânico, apresentasse um programa de pesquisa que englobasse os ciclos do capital e seu processo reprodutivo no tempo, em contextos histórico-concretos, sem concessões para outras vertentes teóricas. Nesse sentido, a perspectiva do padrão de reprodução do capital, formulada originalmente por Ruy Mauro Marini, é um divisor de águas para os interessados na leitura crítica do capitalismo latino-americano. Trata-se de uma proposta teórica que sustenta a necessidade de rigor metodológico e rejeita tanto o ecletismo como o dogmatismo, assumindo para si a difícil tarefa de sustentar o marxismo como ciência transformadora.Segundo os organizadores, para o pesquisador marxista captar o movimento do capital no contexto de situações histórico-concretas é preciso transitar em diferentes níveis de abstração, desde os maiores, das categorias de O capital, até aqueles que resultam de sínteses de múltiplas determinações da experiência social no tempo. 'A categoria de padrão, além de resgatar as contribuições da TMD, sua vigência e urgência para o exame crítico do capitalismo contemporâneo, constitui-se como um verdadeiro programa de pesquisa, articulando contribuições de Marx com formulações do marxismo latino-americano, em especial dos autores dependentistas', afirmam.O capítulo 1, de Marini, discute o problema da cisão entre as fases do ciclo do capital, demonstrando como a dependência nas esferas tecnológica e financeira, assim como a persistência da superexploração da força de trabalho, faz com que se perpetue a subordinação dos países dependentes à divisão internacional do trabalho. No capítulo 2, Osorio dá seguimento à análise de Marini e aprofunda suas reflexões. Segundo ele, o padrão de reprodução do capital se nutre da trajetória particular de desenvolvimento do capitalismo latino-americano para encontrar sua especificidade em padrões históricos. Já no capítulo 3, Marcelo Dias Carcanholo e Marisa Silva Amaral discutem como se dá a imbricação de dois fundamentos que constituem leis próprias da economia dependente: a superexploração da força de trabalho e a transferência de valor.O capítulo 4 traz outro estudo de Osorio, dessa vez sobre o surgimento e a consolidação do novo padrão exportador de especialização produtiva em países como Brasil, Argentina, Chile, México e Colômbia, dos anos 1990 aos dias atuais, na conjuntura particular da mundialização do capital. O autor destaca o peso dos padrões exportadores na história econômica latino-americana como um traço marcante de economias que estão voltadas para atender necessidades de outras, em detrimento das necessidades da população trabalhadora local.Por meio desse resgate da teoria marxista da dependência, o livro presta uma homenagem a Ruy Mauro Marini, seu fundador, e mostra que essa linha do pensamento crítico latino-americano, apesar de ter sido interrompida pelos golpes militares que abalaram o continente, não perderam sua força interpretativa. De acordo com Carlos Eduardo Martins, chefe do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que assina a orelha do livro, 'as lutas contra o neoliberalismo e a crescente assunção da dimensão latino-americana pelo Brasil abrem espaço para o reencontro com a história e a recuperação da vitalidade desse filão, com o desafio de ressignificá-lo tendo em vista os desafios contemporâneos. Este livro é expressão disso'.