O primeiro olhar dirigido a qualquer obra de Valdir Rocha retém imediatamente a imagem de centenas de cabeças. Elas aparecem múltiplas e variadas nos desenhos, gravuras, pinturas e esculturas, linguagens com as quais o artista demonstra grande afinidade. Ao contrário do que se possa supor a partir de uma apreciação inicial e apressada, não são criações feitas em série, originadas de um modelo, de um padrão. Elas surgiram aos poucos, das transformações causadas pela atividade diária no ateliê, que inclui fases de experimentação com a matéria informe. É por isso que, quando apresentadas em seus estágios finais de execução, as figuras adquirem feições que as individualizam em expressões únicas e inconfundíveis. Situações inesperadas de equilíbrio precário aparecem quando as obras são compostas num único conjunto.
Na Torre de Babel (selo Escrituras), cabeças colocadas sobre outras cabeças anunciam novas possibilidades de interpretação e novos significados. A superposição de personagens tão diferentes entre si forma uma espécie de totem, uma alegoria da fragilidade de seres que, embora muito próximos uns dos outros, comunicam-se com dificuldade. Sintetiza também, num só trabalho, todos os componentes da produção do artista, realizados de forma isolada em épocas diversas de sua carreira.
O livro "A Torre de Babel de Valdir Rocha", escrito pelo Doutor em Comunicação e Semiótica Jorge Anthonio e Silva e com texto de orelhas do professor de História da Arte Nelson Screnci, busca investigar essas acumulações de caras, de histórias, talvez na procura da ligação entre mundos distantes e opostos, e assim reunir a realidade aos sonhos, o profano ao sagrado, a terra ao céu. A obra reúne 92 fotografias de autoria de Francisco Lobello, Raimundo Gadelha, Vicente Vê e Nora Prado.