Em As Palavras e as Coisas, não se trata tanto de propor uma "história" das humanidades como de fazer a arqueologia do que nos é contemporâneo.
Mais do que um saber, as ciências humanas são uma prática e um conjunto de instituições. Michel Foucault analisa as condições do seu aparecimento, as suas relações e a filosofia que as sustenta. Desta forma, chega à conclusão de que o "homem" é uma ocorrência recente na história, tendo resultado de uma mutação interna na nossa cultura que se deu a partir do século XVII nos três campos fundamentais do saber - a gramática geral, a análise da riqueza e a história natural. Esta mutação ficou concluída no início do século XIX, com a formação de três novos saberes, que substituíram os antigos - a filologia, a economia política e a biologia. As coisas passaram a obedecer às leis do seu próprio devir, e já não, como anteriormente, às da representação. O reinado do Discurso chegara ao fim, e, no seu lugar, aparece o "homem" - um homem que fala, vive, trabalhe e se torna, assim, objeto de conhecimento. No dia em que estas condições mudem novamente, o "homem" desaparecerá, abrindo a possibilidade de um novo pensamento.