As mulheres de Stepford não são tudo o que parecem...
A fotógrafa Joanna Eberhart acaba de se mudar com seu marido Walter e o casal de filhos Pete e Kim de Nova York para a idílica cidade de Stepford, em Connecticut. Um paraíso distante do turbilhão urbano, como centenas que surgiram após a Segunda Guerra nos Estados Unidos, onde a classe média procurava se estabelecer.
No começo, parece ter sido a escolha perfeita, longe de toda a confusão da cidade grande, cada vez mais caótica e violenta. Enfim, ela teria tempo para se dedicar às suas fotos e quem sabe transformar a atividade em uma profissão. Em casa, ela conta com ajuda do marido, advogado, que segue trabalhando em Nova York, mas volta todos os dias para casa.
A mudança parece boa demais para ser verdade, como Joanna logo vai perceber. Por trás da vida perfeita, há um incômodo crescente, algo que não parece se encaixar. Ao tentar se enturmar com as moradoras, Joanna se depara com mulheres extremamente passivas, obedientes, seguindo um mesmo padrão de beleza e ocupadas demais apenas com seus afazeres domésticos. Quando Joanna conhece Bobbie, outra moradora recente de Stepford, que foge dos “padrões” da cidade, ambas tentam mobilizar as demais, sem sucesso. Sob a impecável e imaculada superfície de Stepford, há algo de sórdido e muito errado — algo abominável que leva a dupla a investigar a inusitada situação do local, antes que sejam devoradas pela perfeição hedionda que encontram em toda a parte.
Obra-prima de suspense psicológico com elementos de ficção científica Mulheres Perfeitas se revela um romance premonitório e assustador. A história sombria de Ira Levin — autor do clássico O Bebê de Rosemary (DarkSide® Books, 2022) — continua tão atraente e assustadoramente relevante como quando foi publicada, em 1972. A crítica mordaz de Levin ganhou versão para o cinema na adaptação original com Katharine Ross como a protagonista, em 1975, no filme com Nicole Kidman, em 2004, e sua influência pode ser sentida em obras posteriores, desde O Conto de Aia até Corra!.
“Atrizes de comerciais de TV, felizes com detergentes, ceras, limpadores, xampus e desodorantes. Atrizes lindas, de busto grande, mas de talento pequeno, desempenhando o papel de donas de casa suburbanas de um modo pouco convincente, tudo agradável demais para ser real. [...] Elas nunca param, essas espantosas esposas de Stepford”, reflete Joanna.
Inspirado pelo florescente movimento de liberação das mulheres que então surgia no final do século XX, Mulheres Perfeitas é uma das histórias mais perturbadoras sobre aqueles tempos ao mesclar humor e horror, provocado pelo previsível reacionarismo que insiste em atrapalhar a vida daquelas que querem somente ser livres e seguir seu próprio caminho. Prepare-se para ser cativado, desconcertado e totalmente absorvido pelo clássico moderno, sombrio e inesquecível de Ira Levin.