Na sátira atribuída a Gregório de Matos e Guerra, o caráter e as paixões do personagem satírico que vitupera vícios e viciosos são inventados retoricamente com categorias e preceitos éticos, jurídicos e teológico-políticos da “política católica” ibérica, sendo repetidos nos poemas como esquemas opositivos de ação verbal: catolicismo X heresia e gentilidade; brancura X não brancura da pele; discrição X vulgaridade; fidalguia X plebe; honestidade X desonestidade; liberdade X escravidão; masculino X feminino; sexo natural X sexo contra naturam. Constituindo-se como semelhança virtuosa das categorias positivas, o personagem satírico compõe os tipos viciosos como semelhanças malvadas das negativas, afirmando ser tipo virtuoso, por isso indignado contra a corrupção da sua Cidade segundo uma afetação retórica de indignação, como ocorre na Sátira 1, 79, de Juvenal: [...] si natura negat, facit indignatio versum. Quando declara que a ordem racional do seu mundo está corrompida e que sua indignação faz o verso, o personagem de Juvenal afirma também ignorar o valor da disciplina poética. Com verossimilhança dramática, alega viver num mundo caótico em que expressa sua indignação caoticamente, como se o discurso fosse expressão informal da sua ira. Obviamente, é artifício dizer que “não há artifício” no que é retoricamente dito. A irracionalidade da indignação do personagem é inventada racionalmente, enfim, pela técnica de contrafação do fingimento poético que produz estruturas “indignadas” e “excessivas”. No século XVII, vulgares as recebiam como ausência de artifício.
Código: |
1617 |
EAN: |
9788582173039 |
Peso (kg): |
0,666 |
Altura (cm): |
21,00 |
Largura (cm): |
14,00 |
Espessura (cm): |
3,00 |
Especificação |
Autor |
Marcello João Adolfo; Moreira Gregório de Matos e; Hansen Guerra |
Editora |
Autêntica |
Ano Edição |
2014 |
Número Edição |
1 |