Fascinado por Fernando Pessoa desde os 16 anos, quando conheceu o poema Tabacaria, o advogado pernambucano José Paulo Cavalcanti Filho, hoje com 65, dedicou a última década a pesquisar a vida e obra do poeta português, resultando na mais completa obra de referência sobre Pessoa: Fernando Pessoa, uma quase autobiografia, publicado em 2012 pela Editora Record e vencedor dos Prêmios Jabuti, Bienal do Livro (Brasília), José Ermírio de Moraes (da Academia Brasileira de Letras), Dario Castro Alves (em Portugal) e Revista Algomais (Pernambuco). O livro está em sua sexta edição, com mais de 11 mil exemplares vendidos. Por quase 10 anos, José Paulo seguiu todos os rastros possíveis do escritor, morto aos 47 anos em Lisboa, onde passou a maior parte de sua vida — a casa, o trabalho, os cafés que freqüentava. Viajou em média cinco vezes por ano a Portugal, onde contratou os serviços de pesquisadores, historiadores, consultores e jornalistas, reunindo um impressionante acervo de documentos e peças de Pessoa, adquiridos de parentes e amigos. Durante esse tempo todo em que trabalhou em sua biografia — ao menos quatro horas por dia —, José Paulo foi se tornando cada vez mais próximo de seu biografado e, no início meio por acaso, cada vez que via uma frase sua (ou de seus heterônimos) que considerasse especial, anotava e guardava. No fim, eram bem mais que mil, sobre os mais diversos assuntos. “Como que vivi na carne suas pequenas alegrias, suas dúvidas, seus desalentos, a consciência do gênio, a liturgia do fracasso. E quis dividir o espanto que tantas vezes senti, ao ler seus textos, com mais gente. Imagino que vão ter surpresas muito agradáveis.”, revela José Paulo. E assim nascia O Livro das Citações. Certo de que tantos haverão de querer saber o que Pessoa pensa da vida, da morte, dos sonhos, dos homens, José Paulo dividiu as frases — algumas inéditas em livro — em mais de 300 temas, a partir de escolhas feitas segundo preferências estritamente pessoais — uma brincadeira com o nome do autor —, por sugestão do amigo Millôr Fernandes: “a idéia é permitir que se tenham, juntas, todas as citações sobre um mesmo tema. Quais suas melhores frases sobre o amor, a paixão, a religião, a loucura — que, para ele, é uma “viagem, entre almas e estrelas, pela floresta dos pavores”. O mito, “que é o nada que é tudo”. Barcos, cujo “fim não é navegar, mas chegar a um porto”. Esta última, aliás, uma citação de Bernardo Soares, um dos 127 heterônimos de Pessoa listados por José Paulo na biografia, e com o qual o autor mais se identifica.