As relações entre a literatura brasileira e a literatura hispano-americana, embora jamais tenham deixado de ser motivo de preocupação para os melhores críticos das duas metades da América Ibérica (no caso brasileiro, um José Veríssimo, um Silvio Romero, um Oliveira Lima, um Manoel Bonfim), quase sempre foram tratadas em termos comparativos superficiais, quando não arrogantemente regionais. Somente em época muito recente, sobretudo em face da crescente importância político-social do continente no conjunto das relações internacionais, é que tem aparecido estudos mais eficazes.Deixando de lado os trabalhos abrangentes, no caso específico da literatura parecem-me decisivos aqueles que empreendem uma análise comparativa, embora necessariamente histórica, mas fundada em sólidos motivos teóricos, encontrando, entre autores e movimentos, angulações, por assim dizer, internas, e que dão à análise histórica, circunstancial, um fundamento de peso.É o caso, por exemplo, das relações entre os nossos escritores modernistas - aqueles surgidos na· e com a Semana de 22 - e os chamados vanguardistas da vertente hispano-americana. Neste sentido, o estudo de Jorge Schwartz, comparando Oswald de Andrade e Oliverio Girondo responde ao que de mais novo pode exigir-se na área. Na verdade, assumindo o tema da modernidade e da urbanização como tópico profundo e articulador de análise, as relações entre os dois autores só fazem enriquecer a visão que se tenha quer da literatura brasileira, quer da literatura argentina. Em ambos os casos, agora solidamente vinculados pela leitura dos textos, trata-se de uma busca da especificidade do que se poderia chamar de modernidade latino-americana, alimentada pelas experiências de vanguarda no trabalho com a linguagem literária. É, portanto, um estudo de Literatura Comparada que leva que leva (e traz) para o conhecimento da sociedade e de suas relações com a criação literária os elementos que realmente importam conhecer para uma leitura vertical quer de significantes, quer de significados mais amplamente culturais. [João Alexandre Barbosa]