Qual o sentido profundo dos mitos gregos e por que se deve hoje em dia ainda se interessar por eles? Segundo o filósofo Luc Ferry, a mitologia está muito longe de ser, como frequentemente se considera na atualidade, um apanhado de “contos e lendas”, uma série de pequenas histórias mais ou menos fantasmagóricas, com a exclusiva finalidade de distrair. “Ao contrário de se limitar a uma simples diversão literária, ela constitui o cerne da sabedoria antiga, a origem profunda daquilo que a grande tradição da filosofia grega logo a seguir desenvolveu sob uma forma conceitual, visando definir os parâmetros de uma vida bem-sucedida para nós, mortais”, afirma o autor francês. Luc Ferry explica em A sabedoria dos mitos gregos por que os mitos ainda são tão próximos dos seres humanos, apesar de terem sido inventados há mais de 3 mil anos, em língua e contexto com quase mais nenhum laço com o tempo em que vivemos. A cada ano surgem, pelo mundo inteiro, dezenas de obras sobre a mitologia grega. Há muito tempo, filmes, desenhos animados e séries da televisão se apoderaram de certos temas da cultura antiga como trama para seus roteiros. Segundo o autor, todo mundo pôde assim, um dia ou outro, ouvir falar dos trabalhos de Hércules, das viagens de Ulisses, dos amores de Zeus e da guerra de Tróia: “Acho que há dois tipos de motivação, um de ordem cultural, é claro, mas também um outro, até principal, de ordem filosófica, cuja pertinência eu gostaria de compartilhar com os leitores. Sob esse ponto de vista, minha obra se inscreve diretamente na perspectiva aberta pelo primeiro volume de Aprender a viver”. “Tentei contar, da maneira mais simples e mais viva possível, as principais narrativas da mitologia grega. Mas fiz isso numa perspectiva filosófica bem particular, da qual gostaria de dizer algumas palavras. Buscando realçar as lições de sabedoria escondidas nos mitos, eu, de fato, me esforcei para explicar o que ainda tem em si a miríade de histórias e anedotas que normalmente juntamos, de maneira mais ou menos barroca, sob o rótulo ‘mitologia’. Tentando sublinhar, já de início, o que podem ainda nos falar, de maneira tão presente, aqueles esplendores passados, eu gostaria de lembrar, como prólogo, tudo que a nossa cultura, inclusive a mais trivial, e também a sabedoria filosófica mais sofisticada lhes devem”, revela Ferry.