Escrito a duas mãos, este livro colige as crónicas que desde 2001 vimos publicando no "Diário Económico" até ao presente.
A sua razão de ser mais evidente está expressa na primeira de todas elas: mostrar como a economia de mercado, embora baseada na iniciativa privada e na concorrência, depende primordialmente da regulação pública.
Resta-nos, nesta nota, chamar a atenção para o que pode ser o seu interesse menos visível, mas não menos importante, ou seja, aquele que não diz respeito aos reguladores ou aos regulados, mas sim a todos nós, utentes do mercado, consumidores de bens ou serviços, cidadãos com direitos e obrigações.
Como se garante o fornecimento, a qualidade e a acessibilidade de preço de serviços que são tão fundamentais todos os dias, como a água, a energia, os transportes, a saúde? Deve ser a União Europeia a garanti-lo, o Governo, o município, um regulador independente? Por que razão só existe uma farmácia no meu bairro e não três ou quatro, como acontece com outros estabelecimentos comerciais? Poderei ficar em terra sem apelo nem agravo porque a companhia área se excedeu nas reservas de lugares? A minha factura da revisão do automóvel pode diminuir se a Comissão Europeia incentivar a concorrência no sector? Em que medida é que a liberalização e a privatização do sector público empresarial e dos serviços públicos tradicionais pode preservar o "modelo social europeu", que me permite aceder a certas prestações essenciais nas mesmas condições, quer viva em Lisboa ou em Monção?
Estas crónicas respondem a isso mesmo e falam até de outros aspectos mais secretos do nosso quotidiano. "Amo-te Francisco, Teresa, José, Leopoldo", "Serás a minha princesa, o meu sapo, o meu rei", são SMS que passam às grosas em tantos telemóveis, sustentando uma espécie de comunicação permanente, em contraste com o uso restrito de telecomunicações em monopólio, a que estávamos habituados ainda há tão pouco tempo. É a economia de mercado construída a golpes de regulação. Mas esse diálogo interactivo, que a Internet ampliou, manter-se-á assim por muito tempo, acessível e livre? Que regulação será necessária para garantir essa liberdade, tão incentivadora de inovação, e encontrar os equilíbrios que melhor protegem esse bem comum?
Os textos aqui coligidos têm portanto a ver com o nosso presente, com a nossa capacidade de o entender e de exercer activamente os nossos direitos, mas também com o nosso futuro e a possibilidade que temos de o influenciar. É por isso que gostamos tanto de os escrever, esperando sempre que haja quem goste de os ler.
2. O título do livro - "A mão visível" - é o mesmo da série de crónicas que lhe deu origem, a que acrescentámos como subtítulo a rubrica do primeiro dos textos publicados.
Trata-se obviamente de uma glosa da célebre referência de Adam Smith sobre a força reguladora espontânea da "mão invisível" do mercado. Inicialmente não nos demos conta de que a mesma ideia já tinha ocorrido a outros, nomeadamente Alfred Chandler Jr, autor de um livro com o mesmo título em inglês (The Visible Hand, The Managerial Revolution in Americam Business, 1977), embora com um sentido diferente, centrado sobre o papel dos gestores na condução das empresas no mercado. Por isso entendemos mantê-lo.
Os textos vão reproduzidos por ordem de publicação e tal como foram publicados, apenas com a correcção de lapsos textuais. Em alguns casos repusemos o título originário, nem sempre inteiramente coincidente com o título "editado" pelo jornal.
Um agradecimento especial é devido ao "Diário Económico" pelo espaço que quinzenalmente nos tem proporcionado (e em especial ao Luís de Barros, a nossa interface mais directa com o jornal), bem como à Almedina, que se encarregou desta publicação.